sexta-feira, 22 de maio de 2009

A recuperação da economia global e a criação de nova moeda-reserva internacional

Já em 1944, durante a realização do Acordo de Bretton Woods, Keynes criticou a idéia de os países participantes (45 países) assumirem o dólar como a moeda-reserva internacional, visto que, se a economia dos Estados Unidos entrar em uma profunda crise, as outras também sofreriam. Ele propôs assim a criação de uma moeda independente de qualquer nação, denominado de Bankor. Realmente, depois de 64 anos, a sua previsão se concretiza, com essa crise atual que assola todos os mercados mundiais.
Muitos países, com destaque para a China – principal comprador da dívida pública dos Estados Unidos e a maior fonte de financiamento do déficit fiscal do governo norte-americano –, defendem a criação de uma nova moeda-reserva para substituir o dólar, mostrando assim, a perda de credibilidade para com a divisa. O objetivo principal dessa tentativa é criar uma nova divisa que não esteja vinculada a um único país e que possa permanecer estável no longo prazo. Um exemplo seria, os Direitos Especiais de Saque (DES) do Fundo Monetário Internacional (FMI), uma moeda independente, formada por uma cesta de moedas fortes – euro, dólar, iene japonês e libra esterlina. A moeda é constituída da seguinte forma: 44% para o dólar, 34 % para o euro, 11% para o iene e 11% para a libra esterlina.
A pergunta que se coloca é se outra moeda pode, realmente, substituir o dólar como principal moeda-reserva. Alguns especialistas se mostram pessimistas, como é o caso de Ahmed Rahnema, professor de finanças do IESE Business School. Segundo ele há dúvidas sobre se esta substituição é possível na prática.
Primeiramente, não se deve esquecer que os DES são um derivado do dólar e outras moedas fortes. Portanto, os DES não constituem uma moeda independente e também, nenhuma das principais forças políticas no FMI (Estados Unidos, União Européia, Reino Unido e Japão) apoiaria a sua criação.
Em segundo lugar, qualquer tentativa de substituir o dólar por outras moedas partindo das autoridades chinesas significaria uma grande venda de ativos lastreados em dólar e isso provocaria uma desvalorização dessa divisa no mercado financeiro. Seria um grande erro cometido pelos chineses.
Em terceiro lugar, enquanto o dólar for a moeda do comércio internacional e a economia norte-americana for a maior do mundo, os bancos centrais dos outros países continuarão a manter boa parte de suas reservas em dólar. Será, portanto, difícil mudar essa tendência.
Em quarto lugar, nenhuma dessas moedas fortes aptas a substituir o dólar como divisa de reserva dispõe de um mercado de títulos com o mesmo nível de liquidez do dólar. Assim, o mercado das dívidas expressa em dólares continuará a ser o de maior liquidez no futuro.
Em quinto lugar, se o objetivo da substituição do dólar como moeda-reserva internacional for o de obter maior rentabilidade, nessa época de crise, não parece factível essa substituição. Isso tornaria uma “bola de neve”.
Finalmente, o fator político interfere nessa decisão de escolher entre uma e outra moeda internacional. Como os E.U. A constituem o principal sócio político, econômico e militar de muitos países do Médio Oriente, Ásia e América, muitos dessas economias continuarão a manter grande parte de suas reservas internacionais em dólar, talves não por razões econômicas, mas por razões políticas. Portanto, a divisa norte-americana manterá sua hegemonia perante as outras moedas.
Ao meu ver, a recuperação da economia global não exige apenas a criação de uma nova moeda de transações internacionais. Exige também, uma regulação dos mercados financeiros e uma coordenação entre os países que permite a reversão dos desequilíbrios macroeconômicos e o restabelecimento da confiança, em termos mundiais.



Artigo elaborado por:

- Carlos Bentub, graduando em Economia pela PUC-Campinas, São Paulo, Brasil.



.
.