quarta-feira, 9 de maio de 2012

O “Vôo da Galinha” da Economia de Cabo Verde


Depois do “milagre” econômico conseguido na década de 70, fruto dos elevados investimentos públicos financiado pelos petrodólares para a infra-estruturação do país, na década seguinte, com o primeiro choque de petróleo e com o conseqüente aumento brusco das taxas de juros internacionais, o Brasil enfrentou uma dura recessão com crise da dívida pública, a chamada de “Década Perdida”. Esse fenômeno econômico cíclico foi designado pelos Economistas de “Vôo da Galinha”, isto é, crescimento econômico considerável e sem sustentação.
Assim como, a galinha é incapaz de manter um vôo por mais de alguns segundos e, via de regra, é curto, da mesma forma, o crescimento econômico obtido não perdura e é curto. Essa falta de sustentação do vôo decorre da falta de investimento prévio ou se for interrompido temporalmente (Stop and Go).
O atual desenho da conjuntura econômica de Cabo Verde me leva a crer que, salvo erro, estamos aproximando dessa situação. Debruçaremos então sobre esse pensamento;
 - Dados do INE nos mostram um comportamento crescente do PIB desde 2002, quando o resultado efetivo foi de 4,6%, passando para 4,7% em 2003 e 5 % em 2004. Essa trajetória permaneceu pelo que, em 2005, ano eleitoral, a Economia cresceu 6,4%, com destaque para o consumo privado ( cresceu 5,3%).
- Em 2006 a nossa Economia teve um “crescimento chinês” de 10,8%, impulsionado por elevados investimentos (públicos e privados) e, também, pelo crescimento no setor bancário e da telecomunicação.
- Já em 2007 temos uma mudança dessa tendência visto que, nesse ano o PIB cresceu 7,8%, representando uma redução de 3% em relação ao ano anterior. Tal fato reflete um declínio do Investimento Estrangeiro Direto, que cresceu 58,8% em 2006 e 33,3% em 2007. No setor de construção civil e obras públicas houve crescimento de 9,9%, contra os 14% que se registrou em 2006 (INE 2007).
- Em 2008, ano de adesão do país à Organização Mundial do Comércio (OMC) e da elevação a País de Rendimento Médio, o PIB cresceu 6,1%, já sentindo os reflexos da crise internacional iniciada nesse ano.
- No ano seguinte, com o agravamento da crise e do seu impacto macroeconômico à nível nacional a economia cresceu apenas 4%. Em 2010, por conta da política anti-crise do governo central, a economia tem uma pequena e quase imperceptível recuperação, ao crescer 5,6%.
- A previsão dos analistas do INE é que o PIB se estabilize em 2011. Para 2012 a tendência é de agravamento, por conta da crise da dívida soberana na União Européia, nossos principais parceiros comerciais.
- Aliado à tudo isso temos o aumento da taxa de desemprego, aumento do déficit público e da dívida pública (que hoje situa nos 93,7% do PIB), diminuição dos investimentos (motor do crescimento) e o agravamento das contas externas.
Portanto minha gente, se esse cenário de desaceleração do crescimento econômico continuar pelos próximos anos (pelo menos até o fim dessa década) por falta de sustentação, demos, então, um “vôo de galinha”. (crescer e não manter esse crescimento). Temos de trabalhar e tomar boas medidas para que isso não aconteça!
Assim, para que esse cenário não se desemboque numa “década perdida”, ainda há tempo de colocar o pé no freio e reverter essa situação constrangedora. Uma política fiscal condizente com a realidade do país e uma política de ataque radical ao desemprego e de incentivo aos investimentos, seriam uma grande saída.

Carlos Bentub
Economista
Contacto: (238) 5936287