sexta-feira, 14 de outubro de 2011

...Mas o que é a Política?

Muitas pessoas na nossa sociedade encaram a Política como sendo uma coisa errada, há um certo preconceito, eu diria até a encaram como um “pecado”. Por isso, resolvi debruçar sobre esse tema tão importante para um país, como também, para a sociedade civil.

Política é a arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados. A aplicação dessa arte nos negócios internos da nação é a Política Interna ou aos negócios externos é a Política Externa. Nos países com regimes democráticos, como Cabo Verde, a ciência política é a atividade dos cidadãos que se ocupam dos assuntos públicos com seu voto ou com sua militância.

O termo política deriva do grego antigo “Politéia” que indicava todos os procedimentos relativos à Polís ou Cidade-Estado (Atenas). Como sendo uma ciência social, trata dos assuntos que dizem respeito à forma de organização da sociedade, trata das relações dos homens na comunidade em que estão inseridas, preza para a coletividade, baseado numa postura normativa. Por isso, nas palavras de Aristóteles, “O homem é um animal político”.

Podemos indicar algumas acepções ao conceito Política:

· No sentido comum, compreende a arte de guiar ou influenciar o modo de governo pela organização de um partido político, pela influência da opinião pública, pela aliciação de eleitores;

· Na concepção erudita, política “consiste nos meios adequados à obtenção de qualquer vantagem” (Hobbes) ou “o conjunto dos meios que permitem alcançar efeitos desejados” (Russel) ou “a arte de conquistar, manter e exercer o poder, o governo”, que é a definição dada por Maquiavel em “O Principe”.

· Política pode ser ainda, a orientação ou a atitude de um governo em relação a certos assuntos e problemas de interesse público: Política financeira (fiscal e monetária), política educacional, política social, política comercial, etc...

· Na concepção moderna, é a ciência moral normativa do governo da sociedade civil.

A política, como forma de atividade ou práxis humana, está intrinsecamente ligada ao poder. O poder político é o poder do homem sobre o homem, pois “consiste nos meios adequados à obtenção de qualquer vantagem” (Hobbes) ou “consiste num conjunto de meios que permitem alcançar os efeitos desejados” (Russel).

A Concepção Aristotélica distingue política e poder baseado no interesse de quem exerce o poder: o poder paterno se exerce pelo interesse dos filhos; o despótico, pelo interesse do senhor; o político, pelo interesse de quem governa e quem é governado. Na Concepção Jus naturalista essa distinção baseia-se na legitimação: o fundamento do poder paterno é a natureza, do poder despótico o castigo por um delito cometido, do poder civil o consenso.

A hipótese Jus Naturalista abstrata adquire profundidade histórica na teoria de Estado de Marx e de Engels, segundo o qual a sociedade é dividida em classes antagônicas e as instituições têm a função primordial de permitir à classe dominante manter seu domínio. Mas, esse objetivo só pode ser alcançado na estrutura do antagonismo de classes pelo controle eficaz do monopólio da força; é por isso que, cada Estado é, e não pode deixar de ser, uma ditadura.

Podemos distinguir três grandes tipos de poder:

· Poder Econômico – é o que se vale da posse de certos bens, necessários ou considerados como tais, numa situação de necessidade para controlar aqueles que não os possuem. Consiste também na realização de um certo tipo de trabalho. A posse dos meios de produção é uma enorme fonte de poder econômico para aqueles que os têm em relação a aqueles que não os têm: o poder do chefe de uma empresa deriva da possibilidade que a posse dos meios de produção lhe oferece o poder de comprar a força de trabalho a troco de um salário. Portanto, quem possui abundância de bens é capaz de determinar o comportamento de quem não os têm pela promessa de concessão de vantagens.

· Poder Ideológico – se baseia na influência que as idéias da pessoa investida de autoridade exerce sobre a conduta dos demais: deste tipo de condicionamento nasce a importância social daqueles que sabem, quer os sacerdotes das sociedades arcaicas, quer os intelectuais ou cientistas das sociedades evoluídas. É por eles, pelos valores que defendem ou pelos conhecimentos que comunicam que ocorre a socialização necessária à coesão do grupo. Portanto, o poder dos intelectuais e cientistas emerge na modernidade quando as ciências ganham um estatuto preponderante na vida política da sociedade, influenciando enormemente o comportamento das pessoas.

· Poder político – fundamenta na posse dos instrumentos com os quais se exerce a força física; é o poder coator no sentido mais restrito da palavra. A possibilidade de recorrer à força distingue o poder político das outras formas de poder. Portanto, a característica mais notável é que, o poder político, detém a exclusividade do uso da força em relação à totalidade dos grupos sob sua influência.

A política, quando bem feita ou exercida, constitui um dos principais instrumentos para o progresso econômico e social. Por essa razão, vamos deixar de lado esse preconceito principalmente agora que somos um país de desenvolvimento médio (PDM). Precisamos de grandes idéias, precisamos de políticas certas aos problemas e desafios que a nossa sociedade enfrenta. Mas, para isso, precisamos mudar a nossa mentalidade, o nosso modo de pensar.

Aos nossos governantes (local e nacional), exijo mais transparência no exercício de vossas funções, mais compromisso com a sociedade civil, mais seriedade na execução dos projetos financiados com impostos pagos pelo cidadão ativo cabo-verdiano. E vai um conselho: quando o barato sai caro, alguém tem de pagar a conta... E a corda arrebenta sempre pelo lado mais fraco, que é o povo. E o povo detém o Poder de Voto...

Carlos Bentub

Economista.

sábado, 2 de abril de 2011

À tí, jovem empreendedor de Ribeira Grande!

Muitos falam sobre o jovem empreendedor como se isso fosse um fenômeno contemporâneo. Mas se analisarmos nossa história evolutiva, veremos que ele é, na verdade, um dos personagens mais antigos da nossa espécie – além de fundamental para que atingíssemos o atual grau de desenvolvimento da humanidade.

No nosso ambiente ancestral, grupos humanos se organizavam em bandos de caçadores e coletores que atuavam de maneira organizada para obter o sustento da comunidade. Mas de nada adiantava um grande número de bons manejadores de lanças se não houvesse um indivíduo com habilidade para coordenar uma estratégia eficiente para cercar a presa. Foi precisamente aí que surgiu a necessidade de um sujeito que fosse bom na coordenação da caçada (ou de uma eficiente operação de coleta), independente de sua própria habilidade na atividade de caçar ou coletar propriamente dita.

Muito tempo depois, inventamos a agricultura, o comércio, a escrita, as leis... Continuamos, entretanto, a ter a necessidade de indivíduos que liderassem empreendimentos análogos aos que praticávamos há dezenas de milhares de anos. No atual grau de desenvolvimento, centrado no sistema capitalista de livre iniciativa, esse sujeito é o empreendedor – que, a priori, pode ser jovem ou velho, tanto faz. Acontece que, já no ambiente ancestral, havia uma diferença sutil entre os líderes de caçadas mais novos ou mais velhos, que tem paralelo entre os jovens empreendedores e aqueles já estabelecidos há muito tempo.

A diferença entre jovens e velhos empreendedores não se restringe ao número de fios de cabelo branco na cabeça, mas principalmente ao comportamento de um e de outro. Um jovem empreendedor, assim como um jovem líder de caçadores, é um sujeito mais impetuoso e disposto a assumir riscos e a inovar. O empreendedor mais velho, por sua vez, tem um comportamento mais seguro e menor propensão ao risco. E uma sociedade saudável terá estes dois tipos de lideranças empresariais convivendo de modo a obter um equilíbrio que maximize a eficiência total do sistema.

Deves estar a perguntar o que tudo isso tem haver contigo. Pois é meu caro, diante das perspectivas econômicas que vivemos hoje no nosso país, onde 4 em cada 10 jovens estão sem emprego (Dados do INE), chegou a hora de você, jovem de Ribeira Grande, descobrir o espírito empreendedor que há dentro de si. Criatividade e idéias para tal não faltam.

Deves estar também a dizer, “Se as autoridades locais e centrais não me dão uma oportunidade, como vou ser empreendedor?”. Pois é, isso é uma das minhas críticas à política empreendedora do nosso país, onde o Estado é o “guru” da economia, mas cabe a você correr atrás dos meios (financiamento, estudo de mercado e do produto, investimento, estrutura de custos, legislação, etc.) e acreditar no seu potencial para atingir a sua meta. É claro que terás de enfrentar obstáculos como estrangulamentos estruturais e conjunturais de nossa Economia, mas tudo dependerá, principalmente, do seu empenho nesse processo.

Como deves saber Santo Antão é hoje uma das ilhas mais pobres do arquipélago, por haver uma escassez de grandes projetos de investimento na região. Quem sabe agora não é um grande momento de colocares em prática, as tuas idéias e assim dar um “up” na economia regional do concelho e da ilha, de um modo geral? Pense nisso!

Adaptando a afirmação de Jhon F. Kennedy (ex-presidente norte-americano) à realidade caboverdeana, “Não digamos apenas o que Cabo Verde deve fazer por nós, mas também, o que podemos e devemos fazer por ele”.

Carlos Bentub

Economista