sábado, 2 de abril de 2011

À tí, jovem empreendedor de Ribeira Grande!

Muitos falam sobre o jovem empreendedor como se isso fosse um fenômeno contemporâneo. Mas se analisarmos nossa história evolutiva, veremos que ele é, na verdade, um dos personagens mais antigos da nossa espécie – além de fundamental para que atingíssemos o atual grau de desenvolvimento da humanidade.

No nosso ambiente ancestral, grupos humanos se organizavam em bandos de caçadores e coletores que atuavam de maneira organizada para obter o sustento da comunidade. Mas de nada adiantava um grande número de bons manejadores de lanças se não houvesse um indivíduo com habilidade para coordenar uma estratégia eficiente para cercar a presa. Foi precisamente aí que surgiu a necessidade de um sujeito que fosse bom na coordenação da caçada (ou de uma eficiente operação de coleta), independente de sua própria habilidade na atividade de caçar ou coletar propriamente dita.

Muito tempo depois, inventamos a agricultura, o comércio, a escrita, as leis... Continuamos, entretanto, a ter a necessidade de indivíduos que liderassem empreendimentos análogos aos que praticávamos há dezenas de milhares de anos. No atual grau de desenvolvimento, centrado no sistema capitalista de livre iniciativa, esse sujeito é o empreendedor – que, a priori, pode ser jovem ou velho, tanto faz. Acontece que, já no ambiente ancestral, havia uma diferença sutil entre os líderes de caçadas mais novos ou mais velhos, que tem paralelo entre os jovens empreendedores e aqueles já estabelecidos há muito tempo.

A diferença entre jovens e velhos empreendedores não se restringe ao número de fios de cabelo branco na cabeça, mas principalmente ao comportamento de um e de outro. Um jovem empreendedor, assim como um jovem líder de caçadores, é um sujeito mais impetuoso e disposto a assumir riscos e a inovar. O empreendedor mais velho, por sua vez, tem um comportamento mais seguro e menor propensão ao risco. E uma sociedade saudável terá estes dois tipos de lideranças empresariais convivendo de modo a obter um equilíbrio que maximize a eficiência total do sistema.

Deves estar a perguntar o que tudo isso tem haver contigo. Pois é meu caro, diante das perspectivas econômicas que vivemos hoje no nosso país, onde 4 em cada 10 jovens estão sem emprego (Dados do INE), chegou a hora de você, jovem de Ribeira Grande, descobrir o espírito empreendedor que há dentro de si. Criatividade e idéias para tal não faltam.

Deves estar também a dizer, “Se as autoridades locais e centrais não me dão uma oportunidade, como vou ser empreendedor?”. Pois é, isso é uma das minhas críticas à política empreendedora do nosso país, onde o Estado é o “guru” da economia, mas cabe a você correr atrás dos meios (financiamento, estudo de mercado e do produto, investimento, estrutura de custos, legislação, etc.) e acreditar no seu potencial para atingir a sua meta. É claro que terás de enfrentar obstáculos como estrangulamentos estruturais e conjunturais de nossa Economia, mas tudo dependerá, principalmente, do seu empenho nesse processo.

Como deves saber Santo Antão é hoje uma das ilhas mais pobres do arquipélago, por haver uma escassez de grandes projetos de investimento na região. Quem sabe agora não é um grande momento de colocares em prática, as tuas idéias e assim dar um “up” na economia regional do concelho e da ilha, de um modo geral? Pense nisso!

Adaptando a afirmação de Jhon F. Kennedy (ex-presidente norte-americano) à realidade caboverdeana, “Não digamos apenas o que Cabo Verde deve fazer por nós, mas também, o que podemos e devemos fazer por ele”.

Carlos Bentub

Economista

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